quarta-feira, 17 de abril de 2024

... somos mantimento de clareiras sem pronúncia.


Sobre as ruínas

paira uma sombra ténue.

Demoro-me no lugar onde as árvores

se inclinam sobre verbos desatentos.

Exponho os pés

e ouço ainda o verão no saibro avermelhado

sob o tráfego dos nossos passos

quase clandestinos

quase imateriais

como a voz que vem do rio

e já não respira na nossa boca.

 

Não há céu para a claridade.

Pressinto-o nos azulejos da estação

na clareira aberta do silêncio

que sobressalta de ausência os carris tomados de dor.

 

"Sinto-te a presença suave no calcanhar dos dias

como sensação de te pressentir mais perto ainda.

acerca-se-me calma a viagem por que anseio

sem a catástrofe do indesejado regresso...!"

 

Neste mapa demorado na memória

o poema cai    desamparadamente.

Somos amantes mudos

inquilinos de um futuro sem candeia.

 

Sobre as ruínas nenhuma ave

nenhum milagre.


07 de abril 2024
Aveiro/Lisboa

Foto:Eva Brzowska