... somos mantimento de clareiras sem pronúncia.
Sobre
as ruínas
paira
uma sombra ténue.
Demoro-me
no lugar onde as árvores
se
inclinam sobre verbos desatentos.
Exponho
os pés
e
ouço ainda o verão no saibro avermelhado
sob o
tráfego dos nossos passos
quase
clandestinos
quase
imateriais
como
a voz que vem do rio
e já
não respira na nossa boca.
Não
há céu para a claridade.
Pressinto-o
nos azulejos da estação
na
clareira aberta do silêncio
que
sobressalta de ausência os carris tomados de dor.
"Sinto-te a presença suave no calcanhar dos dias
como sensação de te pressentir mais perto ainda.
acerca-se-me calma a viagem por que anseio
sem a catástrofe do indesejado regresso...!"
Neste mapa demorado na memória
o poema cai desamparadamente.
Somos amantes mudos
inquilinos
de um futuro sem candeia.
Sobre
as ruínas nenhuma ave
nenhum milagre.
07 de abril 2024
Aveiro/Lisboa
Foto:Eva Brzowska